Celebrado em 1° de maio, o Dia do Trabalho é uma oportunidade para refletir sobre um aspecto essencial, mas muitas vezes negligenciado: a promoção de ambientes seguros e saudáveis para todos os trabalhadores.
Em um cenário de profundas transformações nas relações trabalhistas, a atenção à saúde ocupacional e à segurança segue como um pilar fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável.
Segundo Endrigo Rafael Mildner, engenheiro de segurança do trabalho, ergonomista e professor da Escola Técnica Fundatec, os riscos enfrentados pelos trabalhadores atualmente são variados e complexos.
“Além dos riscos físicos, químicos, biológicos e mecânicos tradicionais, temos novos desafios, como a intensificação do trabalho em plataformas digitais, a pressão por produtividade, jornadas extensas e o assédio moral”, destaca.
Dados recentes reforçam a urgência do tema. De acordo com informações do Anuário Estatístico da Previdência Social, o Brasil registrou 651.476 acidentes de trabalho em 2023, um aumento de 14,7% em relação ao ano anterior.
Apesar de uma leve redução nas mortes — foram 2.783 óbitos em 2023 —, o número absoluto de acidentes segue elevado, evidenciando a necessidade de reforçar as ações de prevenção. Na média, o país contabiliza cerca de sete mortes por dia causadas por acidentes de trabalho.
Para Mildner, construir uma cultura de prevenção é um caminho indispensável. “É essencial promover ações contínuas de formação e conscientização, envolvendo os trabalhadores na identificação de riscos e na construção de soluções”, afirma. Mais do que uma obrigação legal, a segurança deve ser tratada como um valor organizacional, integrando o dia a dia das empresas com transparência e participação coletiva.
O papel do profissional de segurança do trabalho também evoluiu. De acordo com o engenheiro, atualmente o profissional atua como facilitador de uma cultura proativa de segurança e aprendizado contínuo. Ele ressalta que o foco deve ser a compreensão dos sistemas que levam aos acidentes, e não a simples punição individual. “A segurança ocupacional precisa fazer sentido para quem está na base da operação e realiza a atividade-fim da organização”, completa.
A negligência em relação à segurança e saúde do colaborador pode trazer sérias consequências para empresas e trabalhadores.
Entre os prejuízos estão multas, processos, afastamentos e perda de produtividade. Além disso, Mildner alerta para o surgimento da insegurança psicológica e do chamado “silêncio organizacional”, quando os profissionais deixam de relatar problemas por medo de represálias. “Isso mina a credibilidade da organização e pode levar a crises financeiras e reputacionais”, aponta.
A transformação digital e o crescimento do trabalho remoto também trouxeram novos desafios. A ausência de limites claros entre vida pessoal e profissional, a hiperconectividade e a vigilância digital aumentaram os riscos de esgotamento e doenças como o burnout. “Ambientes de home office improvisados elevaram os casos de distúrbios musculoesqueléticos, enquanto o isolamento social afetou a saúde mental e reduziu a coesão entre colegas”, explica Mildner. Nesse novo contexto, ele aponta que é necessário repensar estratégias de prevenção, com políticas que respeitem ritmos individuais e incentivem o e coletivo.
Quanto à legislação, Mildner observa que o Brasil possui normas robustas, mas ainda enfrenta dificuldades de adaptação. “As Normas Regulamentadoras (NRs) foram criadas para ambientes presenciais tradicionais. Hoje, é mais difícil fiscalizar relações de trabalho descentralizadas e precarizadas”, avalia.
Para ele, além de aplicar as normas, é preciso avançar em uma abordagem sistêmica que contemple os impactos das novas tecnologias e modelos organizacionais.
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